segunda-feira, maio 23, 2005

Culto na Vida e Vida no Culto

Muito se tem discutido acerca do culto e de suas prioridades e propósitos. Porém, se tem chegado a poucas conclusões que satisfaçam aos variados grupos litúrgicos de uma forma mais integral. Ou seja, o que é bom para um não o é para o outro.
Há muitos embates sobre a posição da pregação no culto e também sobre o lugar da música na celebração, bem como sua importância temporal.
Todos esses temas são interessantes e dignos de uma saudável discussão, para que se cheguem a denominadores comuns. Assim, o Deus do culto poderá se sentir à vontade no meio daqueles que refletem sobre o culto.
No entanto, não é sobre tais temas que me proponho a escrever nesse breve artigo. O que pretendo é uma reflexão acerca da natureza do culto; sua essência e seu ápice.
Culto é a vida. É a vida vivida em Cristo, com Cristo, por Cristo, e para a glória Dele.
Em sua integralidade, o culto deve ser vivido também em sua coletividade. O culto é coletivo. Não porque pode ser praticado em reuniões (isso é parte dele); mas porque sua manifestação voluntária se dá nos relacionamentos interpessoais que se vinculam ao nosso relacionamento com Deus. O culto está no amor ao próximo que adora a Deus; no partir do pão que sacia a fome do faminto; no abraço que se dá na pessoa suja e mal cheirosa.
Se formos investigar o comportamento do nosso Mestre, descobriremos que a maioria dos seus atos era realizada em companhia de outros. Jesus amava compartilhar. Dividir, para Ele, era motivo de muita festa. Poderia viver tudo isso em uma prazerosa solidão. No entanto, preferia viver na presença de outros, embora nunca saísse da presença do Pai.
O verdadeiro culto é aquele que se compartilha. É rir junto; é cantar e adorar junto! É se deliciar com Palavra de Deus junto; é chorar com o outro; sentir uma dor comum; é amar a Jesus em companhia do outro.
Cultuar é receber Vida e também doá-la. Cultuar é ter as lágrimas enxutas pelo Espírito e enxugar as lágrimas daqueles que choram, em Espírito.
O culto pode ser vivido e praticado na solidão. Até porque, existem momentos em que o homem e a mulher precisam estar a sós com seu Senhor, para que possam amá-lo e ser tratados por ele de uma forma especial e individual. Porém, depois da cura; depois do tratamento; vem a festa e o compartilhar daquilo que se recebeu das mãos de Deus. E aí o culto entra no seu ápice, que seriam os vários cultos individuais unidos em um só culto, para celebrar a Vida. Então, o que faltava no meu culto poderei encontrar no culto do outro e assim ter a minha celebração cada vez mais completa.
Posso chegar a uma prematura conclusão dizendo que cultuar a Deus é fazer parte de Sua Vida; é fazer Deus sorrir. Não por causa de nossa aparente perfeição litúrgica e devocional, mas pelos nossos ansiosos anseios de agradá-lo.

Nunca amei ninguém

Muitas vezes quando me deparo com o texto de I co 13. me faço a seguinte pergunta: será que eu sou capaz de amar alguém? ou melhor: será que alguém além de Jesus conseguiria preencher tais requisitos do amar?
O texto nos diz que o amor é paciente, o amor é bondoso, não inveja, não se vangloria, não se orgulha, não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor nunca morre...
Depois de refletir sobre esse texto descobri que nunca amei ninguém. Na verdade, eu nunca amei de tal forma.
Gostei de muitas pessoas, simpatizei com muitas outras; mas nunca vivi essa misteriosa invenção de Deus de uma maneira tão completa e intensa como a que o texto relata.
Esse texto também me faz lembrar de todos meus relacionamentos pessoais. Me fez ver quantas vezes desisti de amigos não porque não deviam ser meus amigos mas simplesmente porque eu não os amava. Quantas vezes abdiquei de manter um relacionamento bonito e consistente com minha família pelo simples fato de não tomar posicionamentos de alguém que ama.
Quantas vezes não fui bondoso com alguém que dizia amar. Quantas vezes me orgulhei diante de pessoas as quais eu realmente “amava”. Meu Deus! O que é o amor? Será que posso vivê-lo da maneira como tú me ensinas em tua palavra?
Percebi o quanto de oportunidades de amar eu havia perdido durante essa primeira fase da minha existência ao ler esse texto. Como que num filme vi quantos relacionamentos das mais variadas espécies eu desisti por não SUPORTAR; lembrei-me de quantas vezes “fui embora” por não querer ESPERAR pelas portas que o Senhor iria abrir. Também me recordo de muitas vezes que não obtive harmonia em meus relacionamentos pelo simples fato de não CRER no que me falavam ou não CRER que todo aquele sonho daria certo e seria abençoado por Deus.
Realmente muita coisa ficou para traz porque eu não havia entendido o que era amor. E ainda me lembro de algumas vezes que me IREI com extrema facilidade com pequenos erros do outros enquanto muitas vezes que fui elogiado ou recebi qualquer manifestação de afeto, simplesmente dei um sorriso ou um insosso obrigado. E aí vem outra pergunta: Por temos mais facilidade de nos irarmos do que de nos alegrarmos? Por que uma crítica me deixa mais chateado do que um elogio me deixa alegre?
Que isso nos faça refletir a nossa vida cotidiana, nossos relacionamentos, bem como nosso modo de ser e agir, para com Deus e para com os que nos cercam.

sábado, maio 14, 2005

Arrancando as capas no tameion

Muito tenho pensado nos últimos dias sobre o lugar da oração na minha vida; bem como, na maneira que devo lidar com conflitos entre a forma e a essência que ela tem tomado no meu cotidiano. Seria ingenuidade dizer que ela não toma forma, toma sim! E essa forma quem vai determinar é o meu jeito de ser, associado àquilo que aprendi na igreja ou grupo que freqüento. O problema (e digo isso com bastante medo, já que se você desconhecia essa crise, passará a compartilhá-la comigo) é que muitas vezes acabo descobrindo que a forma como oro não tem a ver com quem sou e sim com quem o meu ambiente eclesiástico diz que devo ser. Daí, minha vida de oração deixa de ser uma maravilhosa e intensa descoberta da pessoa de Deus para se tornar uma superficial e infrutífera reprodução de um estereótipo que não me aproxima em nada do caráter do meu Senhor.

Tameion, é a palavra grega usada por Jesus para se referir a quarto no texto de Mateus 6:6 . Segundo Carlos Queiroz, “tameion é o lugar de acesso somente dos mais íntimos. Lugar em que ficamos despidos e não sentimos necessidade de nenhuma capa”. Capa?, Essa é uma palavra muito conhecida dos nossos corações. Nos acompanha nas mais diversas situações. Temos uma para cada uma delas. Inclusive para a oração.

Talvez a capa da oração seja uma das mais belas que possuímos. Mesmo assim, é a mais inútil, já que tenta ludibriar aquele que tudo sabe. Convém que a tiremos, para que possamos nos mostrar como somos para um Deus que é autêntico e verdadeiro, e que deseja nos moldar diariamente à sua imagem e semelhança.

Quando entrarmos no nosso “Tameion”, arranquemos as nossas máscaras e capas, para nos encontrarmos com o nosso amado Mestre e nos deliciarmos com a sua desafiadora e gentil presença.

Quando isso começa a acontecer, o próprio Espírito trata de arrancar de nós as outras capas (aquelas que usamos com as pessoas) e entramos assim na dinâmica da autenticidade com Deus e com o(a) outro(a). Espero sinceramente, que crescemos nessa misteriosa arte que é a oração.


Solamissio