Missão Integral e Espiritualidade Transformadora num Mundo Pós-moderno
Pensar numa espiritualidade transformadora que não tenha o seu fim em si mesma, mas que viva um relacionamento de serviço a Deus e ao outro é também refletir sobre o exercício e a prática da missão integral. Isso, no nosso caso, se dá em meio à pós-modernidade e a todos os seus efeitos sobre a espiritualidade cristã.
É importante lembrarmos que a espiritualidade se dá no contexto da missão. Enquanto exercemos a missão somos impulsionados a nos relacionarmos com Deus e com o outro; esse movimento de serviço e amor torna a nossa espiritualidade um processo dinâmico que tem o seu impulso inicial
Não se pode pensar em espiritualidade sem pensar em transformação, conversão e serviço. A transformação da vida, a conversão do coração e o serviço ao outro. É característico de alguém que possui um genuíno relacionamento com Deus: a) novidade de vida, refletida na sua forma de viver os valores do Reino de Deus (2 Co 5.17); b) conversão do seu coração, que agora coloca todas as suas emoções sob o controle do Espírito de Deus (Fl 4. 4-9); e c) a sua vida de serviço e altruísmo ao próximo (Jo 13.1-17), refletindo de maneira concreta e real o caráter de Cristo.
É muito comum hoje, em meio ao pluralismo religioso que a pós-modernidade traz, vermos formas de espiritualidade baseadas nos estereótipos religiosos norte-americanos; nos monges da idade média; nos liberais que relativizam toda e qualquer prática normativa; nos “novos” adoradores ou adoradores extravagantes. Enfim, existe atualmente uma variedade de tipos de espiritualidade. Mas o que realmente falta hoje é uma sintonia dessas formas de espiritualidade com uma teologia bíblica e relevante para os nossos dias.
Uma espiritualidade baseada em estereótipos americanos ou europeus não cumpre muito o seu papel num povo possuidor de grandes problemas econômicos e sociais, além de alienar e adoecer a espiritualidade brasileira. Uma espiritualidade monástica que se isola numa solitude artificial e divorciada do caos urbano e relacional não oferece algo muito além de um gostoso descanso nas montanhas e de uma momentânea sensação de contemplação e comunhão com o sagrado. Uma espiritualidade liberal que não vê limites para suas relativizações e subjetivações das verdades bíblicas também não oferecerá muito, além de um bom desencargo de consciência, enquanto continua-se vivendo num relacionamento raso e pouco significativo com Deus. Uma espiritualidade dita “extravagante”, mas que não tem o mínimo interesse em extravasar no serviço à sociedade e na prática da justiça, por se achar pura demais para se envolver com o mundo, também não tem muito a oferecer além de algumas experiências de êxtase e a pouco duradoura impressão de se estar próximo de Deus.
Não tenho aqui a intenção de simplesmente desconstruir tudo o que é feito ou acredita-se que é feito como espiritualidade. No entanto, julgo ser necessária uma mudança de mentalidade no que diz respeito ao real sentido da espiritualidade cristã. Não acredito numa espiritualidade divorciada do cotidiano da vida humana, que se isola em um gueto para poder ter sentido. Não acredito numa espiritualidade isolada da solidariedade, que celebra apenas crescimentos individuais.