quarta-feira, julho 12, 2006

Discipulado: Uma Questão de Tempo?

Quando penso em discipulado vêm em minha mente algumas imagens, como duas pessoas caminhando juntas por uma rua, conversando sobre suas vidas e sobre a influência de Jesus nelas. Ou penso numa amizade sólida e transparente, aonde se pode abrir o coração sem medo ou receio da reação que partirá da outra pessoa. Penso também em alguém que possui dons e talentos e decide caminhar e gastar tempo com quem ainda não descobriu ou está descobrindo os dons que tem. Penso num relacionamento de crescimento mútuo onde dá-se e é dado, onde cuida-se e é cuidado, onde cura-se e encontra cura também; onde se compartilha orações e sonhos, vendo a vida com Deus crescer diariamente.

Pensar em discipulado dessa maneira me faz acreditar e sonhar com ele. Me faz desejar ardentemente ser discipulado e também discipular. Me faz ter convicção de que esse é um autêntico projeto divino para nossas vidas e ministérios. No entanto, é quase impossível não achar que isso tudo é o “ideal” e que não costuma ser o “real” em nosso cotidiano tão atarefado e confuso; e como uma nuvenzinha de algodão que é perfurada, eu volto à indesejada realidade e pego a agenda para ver qual “meia hora” eu tenho disponível para crescer ou ajudar alguém a crescer. Me desculpe se te desanimei mas é bem por aí, não é? No entanto, quem disse que não vivemos pelo ideal? E quem disse que não é nossa missão transformar o “ideal” em “real” nas nossas vidas? Onde podemos encontrar o problema para nossa demasiada atenção ao “real” em detrimento do “ideal”?

Acredito que não temos tempo para o discipulado porque somos ensinados no mundo atual a valorizar o espaço e a matéria, enquanto o tempo é apenas literalmente usado para correr atrás delas. Abraham Joshua Heschel diz que “Ganhar o controle do mundo e do espaço é certamente uma de nossas tarefas. O perigo começa quando, para ganhar poder no reino do espaço, pagamos com a perda de todas as aspirações no reino do tempo. Há um reino do tempo em que a meta não é ter, mas ser; não possuir, mas dar, não controlar, mas partilhar, não submeter, mas estar de acordo”[1]. O uso do nosso tempo também revela os desejos do nosso coração e em quais reinos investimos durante o nosso cotidiano.

Estou cada dia mais convicto de que o discipulado, e praticamente tudo que fazemos no Reino de Deus, é uma questão de prioridade e não necessariamente de tempo, pois normalmente sempre o temos para aquilo que nos é importante. Precisamos saber se é necessário (no mais literal sentido) trabalhar tanto; se é realmente inegociável estudar tanto, se é tão importante ficar mais rico ou colecionar tantos títulos. Precisamos descobrir quais os verdadeiros motivos da nossa correria e repensá-la à luz das palavras do Senhor Jesus: Mas buscai primeiro o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas (Mt. 6. 33).


[1] HESCHEL, Abraham Joshua. O Schabat: Seu significado para o homem moderno. Pp 11-12.